Podem ser qualificadas igualmente como o evangelho que ergue o ser humano e a lei que o julga e corrige; ou como a graça que lhe é ofertada e o juízo que o ameaça; ou como a vida para a qual é salvo e a morte que fez por merecer, O teólogo deve ver, refletir, expressar ambas as realidades, tanto a luz quanto a sombra— em fidelidade à palavra de Deus e à palavra da Escritura que a testemunha. Mas é justamente nesta fidelidade que ele não poderá ignorar nem ocultar o fato de a relação existente entre esses dois momentos não ser idêntica aos movimentos alternantes de um pêndulo, repetidos com uniformidade, nem aos dois pratos da balança que, carregados com pesos iguais, fiquem balançando indecisos; aí há, pelo contrário, um “antes” e um “depois”, um “em cima” e um “embaixo”, um “mais” e um “menos”.
(..) Qualificamos a teologia como uma ciência alegre. Por que existem tantos teólogos melancólicos, que andam por aí com um rosto constantemente preocupado, quando não amargurado, sempre prontos para levantar ressalvas críticas e negações?É porque náo respeitam este terceiro critério do conhecimento teológico: a economia intrínseca de seu objeto – a sobreposição do sim de Deus ao seu não, do evangelho à lei, da graça à condenação, da vida à morte – mas querem transformá-la arbitrariamente em equivalência ou até invertê-la.
O teólogo encontra sua satisfação, torna-se e é uma pessoa satisfeita, que espalha contentamento tanto na comunidade quanto no mundo, quando seu conhecimento, na qualidade de intellectus fidei, segue a estrutura que lhe é dada com o objetio de sua ciência
(K. Barth, Introdução à Teologia Evangélica. 9 ed, São Leopoldo, Sinodal, 2007, p. 60-62)