quarta-feira, 16 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
O que é teologia?
A teologia pode ser comparada a uma árvore. Pois, assim como a árvore é composta de raízes, tronco, galhos e frutos, a teologia tem todos esses elementos.
A raiz da teologia é o próprio Deus. Ele é o fundamento de toda a teologia, sua fonte e seu ápice. Assim como uma árvore sustenta-se por suas raízes, pois são elas que a seguram firme na terra, assim a teologia firma-se em Deus, tendo ele como seu ponto de partida e de chegada.
O tronco de uma árvore pode ser comparado com uma “ponte”, pois os nutrientes que as raízes absorvem são levados até os galhos através do tronco e, produzindo assim seus frutos. Os meios de “produzir teologia” são as Sagradas Escrituras, tanto para católicos e protestantes e, para nós católicos, a Tradição e o Magistério Eclesiástico. Estes elementos nos ajudam a fazer teologia e levar a seiva que dá a vida para os galhos e a produzir frutos. Podemos chamar o primeiro elemento de Revelação.
Os galhos, as folhas e os frutos são sinais de que uma árvore está viva. Os diversos “galhos” da teologia seriam as diversas áreas de estudo e disciplinas desta ciência: dogmática, bíblica, histórica, moral, etc.
Os frutos, podemos comparar com o resultado da prática teológica, que aplicados na pastoral, nas comunidades e nos centros acadêmicos, frutificam, fazendo expandir o Reino de Deus no mundo.
Cada fruto trás em si sementes. A teologia também, e está aí a frutificar!
Emerson Andrade
Estudante do primeiro ano de teologia do ISTA, Belo Horizonte
A raiz da teologia é o próprio Deus. Ele é o fundamento de toda a teologia, sua fonte e seu ápice. Assim como uma árvore sustenta-se por suas raízes, pois são elas que a seguram firme na terra, assim a teologia firma-se em Deus, tendo ele como seu ponto de partida e de chegada.
O tronco de uma árvore pode ser comparado com uma “ponte”, pois os nutrientes que as raízes absorvem são levados até os galhos através do tronco e, produzindo assim seus frutos. Os meios de “produzir teologia” são as Sagradas Escrituras, tanto para católicos e protestantes e, para nós católicos, a Tradição e o Magistério Eclesiástico. Estes elementos nos ajudam a fazer teologia e levar a seiva que dá a vida para os galhos e a produzir frutos. Podemos chamar o primeiro elemento de Revelação.
Os galhos, as folhas e os frutos são sinais de que uma árvore está viva. Os diversos “galhos” da teologia seriam as diversas áreas de estudo e disciplinas desta ciência: dogmática, bíblica, histórica, moral, etc.
Os frutos, podemos comparar com o resultado da prática teológica, que aplicados na pastoral, nas comunidades e nos centros acadêmicos, frutificam, fazendo expandir o Reino de Deus no mundo.
Cada fruto trás em si sementes. A teologia também, e está aí a frutificar!
Emerson Andrade
Estudante do primeiro ano de teologia do ISTA, Belo Horizonte
domingo, 13 de março de 2011
O futuro da teologia
Entrevista ao teólogo latino-americano José Maria Vigil
Qual é o futuro da teologia? Para onde ela vai?
Para alguns, a pergunta é inútil, porque a teologia seria sempre a mesma, uma teologia perene. E deveria ser assim também no futuro. Pelos séculos dos séculos. Ela deveria buscar, simplesmente, ser fiel à sua missão de sempre e de "custodiar fielmente o depósito da fé". Mas essa visão estática não resiste à verificação histórica. Porque, na realidade, a teologia não fez nada mais do que mudar, evoluir, constantemente, desde o seu início.
Segundo a definição anselmiana, a teologia é "fides quaerens intellectum", fé que quer compreender. "Fides", aqui, não é a fé como uma entidade abstrata, sem sujeito... Quem quer compreender são os sujeitos crentes, que querem entender aquilo em que creem. Pois bem, com a mudança dos sujeitos crentes, geração após geração, em contextos históricos que em cada tempo são diversos, a sua busca de compreensão – "quaerens intellectum" – inevitavelmente evoluiu (...).
Na última parte do século passado, as comunicações, as migrações, o turismo, a própria mundialização diversificaram enormemente as sociedades. A maior parte do globo se tornou pluricultural e plurirreligiosa. Desapareceram quase totalmente as sociedades homogêneas, monoculturais e monorreligiosas em que se podia fazer teologia no interior de uma única religião, sem compreender as perguntas que surgem das reivindicações de verdade de outras religiões.
Antes ou depois, com maior ou menor consciência, os crentes querem finalmente compreender a relação da sua própria fé com os outros credos e reinterpretar as antigas respostas herdadas à luz desse pluralismo. É a teologia das religiões (nunca na história a teologia havia se colocado a questão das outras religiões), que depois se chamou teologia do pluralismo (que se pergunta: esse pluralismo é de fato ou de direito?) e que desemboca, enfim, na teologia pluralista: uma perspectiva nova, antes inimaginável na maior parte das religiões.
Se na sociedade convivem, agora, inevitavelmente, muitas religiões (…), o crente não quer saber só da sua própria religião, mas quer saber também o que as outras dizem. A teologia responde não com a resposta única de uma só religião, mas com o leque de respostas que as diversas religiões fornecem, para que a pessoa possa se enriquecer com tudo isso. Nunca aconteceu algo semelhante na história da teologia: trata-se da teologia comparativa.
Nesse contexto inter-religioso, são muitos os crentes – mesmo que ainda representem uma exceção – que têm uma experiência religiosa plural, que vivem a sua própria experiência religiosa em mais de uma religião. Têm um duplo pertencimento ou às vezes um pertencimento múltiplo. Obviamente, são muitos mais aqueles que acreditam que isso não seja possível ou que seja errado... e fazem bem ao não buscar experimentar. Mas o fato surpreendente daqueles que vivem um pertencimento múltiplo interpela a teologia com uma outra pergunta inédita: por que não deveria ser possível uma teologia inter-religiosa, multifé? A possível teologia inter-religiosa, apoiada por alguns, desprezada por outros, está aí, mesmo que em fase de experimentação (...).
A crise da religião tradicional, que é vivida paradoxalmente junto a uma revivescência de novas formas religiosas, já impôs praticamente a distinção clara entre religião e espiritualidade. Esta última é a dimensão profunda, enquanto a religião parece pertencer mais ao âmbito das formas, como interface que o ser humano criou para expressar aquela. Essa convicção, que já se afirmou em boa parte da sociedade atual, põe novas perguntas aos crentes. Eles querem entender o que significa então a religião: se a religião é, como sempre haviam pensado, a mediação primária para a espiritualidade, o único e principal canal de comunicação com o divino, ou se a religião é, ao invés, uma interface útil enquanto sirva, mas substituível ou prescindível quando encontra melhores mediações.
Nessa situação, como dissemos, as perguntas de muitos crentes são agora, nesse sentido, pós-religião: vão além das religiões e além da religião, embora estejam mais interessadas do que nunca na espiritualidade. A resposta a perguntas inscritas nessa perspectiva contribui com a elaboração de uma teologia pós-religiosa, laica, humana, preocupada com o papel humanizante da espiritualidade, muito além das religiões.
Uma vitalidade efervescente
Olhando para trás, podemos dizer que nos últimos 100 anos descobrimos mais mudanças evolutivas na teologia do que os que foram experimentados em toda a sua história. Como dizíamos, a sua evolução se acelerou. Surpreende-nos com a sua efervescente vitalidade. Ela chegou à sua fase final? Obviamente não. Não sabemos como o seu surpreendente itinerário seguirá em frente, mas apostamos em um brilhante futuro.
Não é preciso insistir, porque é óbvio que nem toda a teologia deve passar por cada uma dessas etapas... Nem que a aparição de uma nova etapa signifique desacreditar os modelos de teologia anteriores... O conhecimento humano, as culturas e também o mundo religioso evoluem por ondas sucessivas, mediante novos paradigmas que se apresentam de improviso, de modo surpreendente, caótico, não linearmente previsto. Encontram-se, cruzam-se, chocam-se, originam ou tornam possíveis outros paradigmas e tudo contribui para fecundar mutuamente o caminho rumo a etapas superiores. Os novos paradigmas nem sempre substituem os anteriores: com maior frequência, simplesmente se somam e se fecundam mutuamente. Nesse sentido, muitas teologias podem conviver juntas. Sempre haverá teologias confessionais enquanto houver confissões no mundo religioso. Essa forma de teologia não deve ser temida, será sempre necessária no seu âmbito: as formas de teologia supraconfessionais não vêm para expeli-la ou para substituí-la, mas sim para cobrir outros espaços em que aquela não foi aceita porque nem foi compreendida, isto é, na sociedade multirreligiosa, nos meios de comunicação laicos, na universidade laica...
A maior parte das formas de teologia dos últimos tempos pode continuar, cada uma no nicho em que foi sistematizada. Mas a meu ver isso não impede que, na evolução da teologia, possa se descobrir uma direção, um sentido que indique um certo perfil previsível da teologia do futuro.
Qual é o futuro da teologia? Para onde ela vai?
Para alguns, a pergunta é inútil, porque a teologia seria sempre a mesma, uma teologia perene. E deveria ser assim também no futuro. Pelos séculos dos séculos. Ela deveria buscar, simplesmente, ser fiel à sua missão de sempre e de "custodiar fielmente o depósito da fé". Mas essa visão estática não resiste à verificação histórica. Porque, na realidade, a teologia não fez nada mais do que mudar, evoluir, constantemente, desde o seu início.
Segundo a definição anselmiana, a teologia é "fides quaerens intellectum", fé que quer compreender. "Fides", aqui, não é a fé como uma entidade abstrata, sem sujeito... Quem quer compreender são os sujeitos crentes, que querem entender aquilo em que creem. Pois bem, com a mudança dos sujeitos crentes, geração após geração, em contextos históricos que em cada tempo são diversos, a sua busca de compreensão – "quaerens intellectum" – inevitavelmente evoluiu (...).
Na última parte do século passado, as comunicações, as migrações, o turismo, a própria mundialização diversificaram enormemente as sociedades. A maior parte do globo se tornou pluricultural e plurirreligiosa. Desapareceram quase totalmente as sociedades homogêneas, monoculturais e monorreligiosas em que se podia fazer teologia no interior de uma única religião, sem compreender as perguntas que surgem das reivindicações de verdade de outras religiões.
Antes ou depois, com maior ou menor consciência, os crentes querem finalmente compreender a relação da sua própria fé com os outros credos e reinterpretar as antigas respostas herdadas à luz desse pluralismo. É a teologia das religiões (nunca na história a teologia havia se colocado a questão das outras religiões), que depois se chamou teologia do pluralismo (que se pergunta: esse pluralismo é de fato ou de direito?) e que desemboca, enfim, na teologia pluralista: uma perspectiva nova, antes inimaginável na maior parte das religiões.
Se na sociedade convivem, agora, inevitavelmente, muitas religiões (…), o crente não quer saber só da sua própria religião, mas quer saber também o que as outras dizem. A teologia responde não com a resposta única de uma só religião, mas com o leque de respostas que as diversas religiões fornecem, para que a pessoa possa se enriquecer com tudo isso. Nunca aconteceu algo semelhante na história da teologia: trata-se da teologia comparativa.
Nesse contexto inter-religioso, são muitos os crentes – mesmo que ainda representem uma exceção – que têm uma experiência religiosa plural, que vivem a sua própria experiência religiosa em mais de uma religião. Têm um duplo pertencimento ou às vezes um pertencimento múltiplo. Obviamente, são muitos mais aqueles que acreditam que isso não seja possível ou que seja errado... e fazem bem ao não buscar experimentar. Mas o fato surpreendente daqueles que vivem um pertencimento múltiplo interpela a teologia com uma outra pergunta inédita: por que não deveria ser possível uma teologia inter-religiosa, multifé? A possível teologia inter-religiosa, apoiada por alguns, desprezada por outros, está aí, mesmo que em fase de experimentação (...).
A crise da religião tradicional, que é vivida paradoxalmente junto a uma revivescência de novas formas religiosas, já impôs praticamente a distinção clara entre religião e espiritualidade. Esta última é a dimensão profunda, enquanto a religião parece pertencer mais ao âmbito das formas, como interface que o ser humano criou para expressar aquela. Essa convicção, que já se afirmou em boa parte da sociedade atual, põe novas perguntas aos crentes. Eles querem entender o que significa então a religião: se a religião é, como sempre haviam pensado, a mediação primária para a espiritualidade, o único e principal canal de comunicação com o divino, ou se a religião é, ao invés, uma interface útil enquanto sirva, mas substituível ou prescindível quando encontra melhores mediações.
Nessa situação, como dissemos, as perguntas de muitos crentes são agora, nesse sentido, pós-religião: vão além das religiões e além da religião, embora estejam mais interessadas do que nunca na espiritualidade. A resposta a perguntas inscritas nessa perspectiva contribui com a elaboração de uma teologia pós-religiosa, laica, humana, preocupada com o papel humanizante da espiritualidade, muito além das religiões.
Uma vitalidade efervescente
Olhando para trás, podemos dizer que nos últimos 100 anos descobrimos mais mudanças evolutivas na teologia do que os que foram experimentados em toda a sua história. Como dizíamos, a sua evolução se acelerou. Surpreende-nos com a sua efervescente vitalidade. Ela chegou à sua fase final? Obviamente não. Não sabemos como o seu surpreendente itinerário seguirá em frente, mas apostamos em um brilhante futuro.
Não é preciso insistir, porque é óbvio que nem toda a teologia deve passar por cada uma dessas etapas... Nem que a aparição de uma nova etapa signifique desacreditar os modelos de teologia anteriores... O conhecimento humano, as culturas e também o mundo religioso evoluem por ondas sucessivas, mediante novos paradigmas que se apresentam de improviso, de modo surpreendente, caótico, não linearmente previsto. Encontram-se, cruzam-se, chocam-se, originam ou tornam possíveis outros paradigmas e tudo contribui para fecundar mutuamente o caminho rumo a etapas superiores. Os novos paradigmas nem sempre substituem os anteriores: com maior frequência, simplesmente se somam e se fecundam mutuamente. Nesse sentido, muitas teologias podem conviver juntas. Sempre haverá teologias confessionais enquanto houver confissões no mundo religioso. Essa forma de teologia não deve ser temida, será sempre necessária no seu âmbito: as formas de teologia supraconfessionais não vêm para expeli-la ou para substituí-la, mas sim para cobrir outros espaços em que aquela não foi aceita porque nem foi compreendida, isto é, na sociedade multirreligiosa, nos meios de comunicação laicos, na universidade laica...
A maior parte das formas de teologia dos últimos tempos pode continuar, cada uma no nicho em que foi sistematizada. Mas a meu ver isso não impede que, na evolução da teologia, possa se descobrir uma direção, um sentido que indique um certo perfil previsível da teologia do futuro.
Essa teologia teria as seguintes características:
- Não será mais uma teologia que coloque muito o acento sobre o "teo", porque aumentará sempre mais o conhecimento, em todas as latitudes, de que o teísmo é um modelo de compreensão/expressão da nossa concepção da divindade, não uma descrição certa e menos ainda imprescindível da "Realidade última";
- Não será, nem com muito entusiasmo, "logia", porque nesse ponto já descobrimos em nível mundial as deficiências da unilateralidade do discurso racional que exalta o "logos" a despeito de outras dimensões mais sutis do conhecimento humano;
- Será confessional quando for útil – para o serviço teológico no interior de ministérios ou âmbitos de uma determinada religião, obviamente – mas também saberá ser, quando necessário, não confessional, ecumênica e supraconfessional, em função do público ao qual se dirige e do âmbito em que se inscreve;
- Será, em todo o caso, pluralista, isto é, superará o complexo de superioridade religiosa do qual quase todas as religiões do mundo sofreram, um complexo que as levou a se considerarem diretamente divinas, a única religião válida do mundo. Ora, diante da evidência de que todas as religiões são lâmpadas da riqueza infinita da Realidade última, perceberão que o pluralismo religioso é o que foi "querido por Deus", em vez de ser um mal a ser combatido;
- Mesmo quando for confessional, certamente deverá ser, sempre mais, uma teologia comparativa: na sociedade plural, deverá se encarregar da palavra das outras religiões (...) mais do que permanecer dentro de restritos limites autorreferenciais;
- Mais do que simplesmente comparativa, será muitas vezes inter-religiosa, interfé, intercrente, multirreligiosa, multifé... (é ainda prematuro um vocabulário definitivo). Mesmo que hoje ela pareça ser impossível para muitos, para outros ela é uma possibilidade já em curso. Não é absolutamente excepcional a experiência de dupla ou múltipla pertença religiosa, mesmo que para muitos isso seja inimaginável. Aqueles que a experimentam estão em condições de elaborar esse tipo de teologia, e já estão em curso experiências provisórias, mas promissoras;
- Se poderá ser não confessional, é óbvio que ela poderá ser "laica", não oficial, nem clerical, nem pertencente a alguma instituição religiosa: uma teologia fora da instituição, laica, civil, espiritual, humana. Quem souber abrir os olhos provavelmente descobrirá que essa teologia já está em curso e que abre caminho, muitas vezes sem esse nome. Não é uma teologia convencional, que trabalha de maneira confessional, mas sim uma teologia que pretende simplesmente "humanizar a humanidade";
- Desde os tempos da teologia da libertação, acredito que essa qualificação não é facultativa, mas essencial: não existe teologia se não for libertadora. Mas a velha forma de teologia da libertação deve ser fecundada – e já o está fazendo – com os novos paradigmas que a seguiram. Não pode continuar sendo exclusivista, como foi originariamente, não por vontade explícita, mas de maneira inconsciente. Não poderá nem ser tão antropocêntrica como foi, também involuntariamente: agora, deverá ser cosmo-biocêntrica, para humanizar a humanidade e o planeta, a partir de uma perspectiva de eco-justiça.
Podemos esperar mudanças positivas na teologia?
Fecundado por tantos paradigmas novos e por tantas experiências em curso, o futuro da teologia é promissor e sedutor para quem se deixa fascinar por essa inquietação radical do ser humano, do ser humano religioso que sempre busca entender a sua própria religião.
Sem dúvida, estamos em um tempo de mudança radical, de formas novas de teologia que não foram nem sonhadas. O futuro é de quem se arrisca apontando para essa tarefa de refundação teológica.
- Não será mais uma teologia que coloque muito o acento sobre o "teo", porque aumentará sempre mais o conhecimento, em todas as latitudes, de que o teísmo é um modelo de compreensão/expressão da nossa concepção da divindade, não uma descrição certa e menos ainda imprescindível da "Realidade última";
- Não será, nem com muito entusiasmo, "logia", porque nesse ponto já descobrimos em nível mundial as deficiências da unilateralidade do discurso racional que exalta o "logos" a despeito de outras dimensões mais sutis do conhecimento humano;
- Será confessional quando for útil – para o serviço teológico no interior de ministérios ou âmbitos de uma determinada religião, obviamente – mas também saberá ser, quando necessário, não confessional, ecumênica e supraconfessional, em função do público ao qual se dirige e do âmbito em que se inscreve;
- Será, em todo o caso, pluralista, isto é, superará o complexo de superioridade religiosa do qual quase todas as religiões do mundo sofreram, um complexo que as levou a se considerarem diretamente divinas, a única religião válida do mundo. Ora, diante da evidência de que todas as religiões são lâmpadas da riqueza infinita da Realidade última, perceberão que o pluralismo religioso é o que foi "querido por Deus", em vez de ser um mal a ser combatido;
- Mesmo quando for confessional, certamente deverá ser, sempre mais, uma teologia comparativa: na sociedade plural, deverá se encarregar da palavra das outras religiões (...) mais do que permanecer dentro de restritos limites autorreferenciais;
- Mais do que simplesmente comparativa, será muitas vezes inter-religiosa, interfé, intercrente, multirreligiosa, multifé... (é ainda prematuro um vocabulário definitivo). Mesmo que hoje ela pareça ser impossível para muitos, para outros ela é uma possibilidade já em curso. Não é absolutamente excepcional a experiência de dupla ou múltipla pertença religiosa, mesmo que para muitos isso seja inimaginável. Aqueles que a experimentam estão em condições de elaborar esse tipo de teologia, e já estão em curso experiências provisórias, mas promissoras;
- Se poderá ser não confessional, é óbvio que ela poderá ser "laica", não oficial, nem clerical, nem pertencente a alguma instituição religiosa: uma teologia fora da instituição, laica, civil, espiritual, humana. Quem souber abrir os olhos provavelmente descobrirá que essa teologia já está em curso e que abre caminho, muitas vezes sem esse nome. Não é uma teologia convencional, que trabalha de maneira confessional, mas sim uma teologia que pretende simplesmente "humanizar a humanidade";
- Desde os tempos da teologia da libertação, acredito que essa qualificação não é facultativa, mas essencial: não existe teologia se não for libertadora. Mas a velha forma de teologia da libertação deve ser fecundada – e já o está fazendo – com os novos paradigmas que a seguiram. Não pode continuar sendo exclusivista, como foi originariamente, não por vontade explícita, mas de maneira inconsciente. Não poderá nem ser tão antropocêntrica como foi, também involuntariamente: agora, deverá ser cosmo-biocêntrica, para humanizar a humanidade e o planeta, a partir de uma perspectiva de eco-justiça.
Podemos esperar mudanças positivas na teologia?
Fecundado por tantos paradigmas novos e por tantas experiências em curso, o futuro da teologia é promissor e sedutor para quem se deixa fascinar por essa inquietação radical do ser humano, do ser humano religioso que sempre busca entender a sua própria religião.
Sem dúvida, estamos em um tempo de mudança radical, de formas novas de teologia que não foram nem sonhadas. O futuro é de quem se arrisca apontando para essa tarefa de refundação teológica.
sexta-feira, 11 de março de 2011
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